Fim da terra no meio do mundo
A luz do entardecer ilumina cada tarde as cruzes nos alcantilados orientadas para o mar em memória dos falecidos e desaparecidos. Nesse momento oferecem-se junto aos dois elementos, entardeceres e tragédias, que rebaptizaram o latino Finisterrae para o converter na Costa da Morte.
Na actualidade, continua a ser um dos pontos estratégicos mais transitados das rotas marítimas intercontinentais e um dos mais perigosos para a navegação. O registo cartográfico de naufrágios e salvamentos encha-se de cruzes que representam mais de uma centena e meia de embarcações naufragadas no último século, e perde-se a conta dos sustos quotidianos na memória colectiva de uma povoação marinheira alegre e vital.
Por isso, a Costa da Morte não é um cemitério. São os cento e cinquenta quilómetros de vida marítima e marinheira melhor conservados da fachada atlântica europeia. Abrange, de norte a sul, desde as proximidades da cidade de A Coruña até ao cabo Fisterra. Contém as rias de Camariñas, Corme-Laxe e Lires nas quais se situam juntamente com a de Fisterra os principais portos, mas não os únicos pois existem outros como o de Caión ou o de Malpica que oferecem refúgio ao mar aberto.
Excepto as pequenas rias altas, trata-se principalmente de uma costa alcantilada numa sucessão de amplas enseadas que alcança os melhores exemplos de pontas agrestes nos cabos Vilán, Touriñán ou em O Roncudo. Aqui encontraremos os troços litorais mais selvagens com lugar para os areais revestidos com a beleza do vento: Balarés em Ponteceso; O Trece em Camariñas, Mar de Fóra em Fisterra. Completam a riqueza ambiental as zonas húmidas de Baldaio e Razo ou a lagoa de Traba. Sem esquecer a sonora solidão das ilhas Sisargas.