A Serra dos Ancares é um dos locais da Galiza que mais surpreende pela sua beleza. Situa-se no leste da província de Lugo, e os seus principais picos, como O Mustallar ou Três Bispos, marcam a fronteira com Castela e Leão e Astúrias.

Ao longo dos mais de 50.000 hectares, uma infinita rede de caminhos atravessa vales profundos e sobe até picos de quase 2.000 metros de altura. Os Ancares oferecem uma imagem diferente consoante a época do ano, desde o branco da neve do inverno à explosão de cores e verdes da primavera ou aos tons dourados e vermelhos do outono.

Pela sua paisagem e biodiversidade, a Serra dos Ancares é uma área de valor incalculável para os amantes da natureza, tendo sido declarada Reserva da Biosfera pela UNESCO em 2006.

No passado, estas montanhas serviram de habitat aos últimos indivíduos de pita-do-monte e ursos da Galiza. A implementação de um complexo programa de recuperação desta espécie faz com que os primeiros indivíduos comecem a ser avistados nestas terras. Javalis, veados, coelhos, corujas, gatos selvagens ou esquilos são alguns dos habitantes que podemos encontrar nas montanhas e serras destas terras.

Percurso

Este percurso de baixa dificuldade que propomos tem a duração de três dias. O itinerário é adequado para qualquer viajante e ideal para famílias. O percurso de carro será complementado por outros passeios mais curtos para fazer a pé. A distribuição do tempo deve ser tomada apenas como exemplo, já que cada pessoa pode alterá-la de acordo com suas preferências.

Embora o roteiro possa ser feito em qualquer direção, a nossa proposta é iniciá-lo em Becerreá e ir em direção às Pontes de Gatín de forma a seguir o curso do rio Cervantes até Doiras e de seguida subir em direção a Degrada e Piornedo. Continuaremos pelas cidades leonesas de Suárbol e Balouta para depois descer em direção ao vale de Navia por Murias de Rao retornando ao ponto de partida.

Acessos à zona...

  • Desde a autoestrada A-6 até Becerreá apanharemos o desvio pela LU-722 para as Pontes de Gatín, onde iniciaremos a viagem pela Serra dos Ancares.
     

Dia 1

Já na estrada LU-722 passamos por Borquería até Liber, onde apanhamos o desvio sinalizado para Doiras (20 km). Atravessamos imediatamente o rio Navia, onde podemos encontrar à nossa direita a chamada “Ponte do Demo ou Ponte de Gatín” (pela lenda que lhe está associada), que dá origem à localidade: As Pontes de Gatín.

A partir daqui, subimos o estreito vale do rio Cervantes, posteriormente chamado Las Casas, passando por várias aldeias como Lama de Rei, O Mosteiro, O Fabal ou Vilanova até chegar à Ponte das Doiras.

Antes de continuar a rota para Donís e Piornedo podemos optar por deixar o carro neste lugar e continuar a pé, com cautela, pela estrada por onde passamos para chegar ao castelo de Doiras. Esta é uma fortaleza do século XV que pode ser visitada para conhecer mais sobre a sua história e a lenda do cervo branco, assim como para apreciar a paisagem ao seu redor.

De Doiras apanhamos a estrada provincial em direção a Donís, passando por Castelo dos Frades, onde podemos observar dois celeiros do tipo asturiano com cobertura vegetal. A cerca de 11km da travessia chegamos a Degrada, onde ainda podemos encontrar uma palhoça coberta bem preservada. A menos de um quilómetro de distância está Campa da Braña, onde encontramos à direita o desvio para o edifício da Pousada dos Ancares e da Sala da Natureza. A partir daqui começa um dos percursos clássicos do montanhismo da região: o percurso do Pico dos Três Bispos, a quase 1800m de altitude. O seu nome deve-se ao facto de se pensar ter sido o local de encontro dos bispos das três dioceses vizinhas. Nesta zona, existem bosques de azevinhos, árvores de beleza espetacular, especialmente quando se tingem de vermelho com os frutos das árvores fêmeas.

Continuaremos o nosso caminho em direção a Piornedo por uma estrada estreita que percorre os diferentes vales, passando pelo lugar dos Cabaniños, no vale do rio Ortigal. Aqui pode encontrar um painel explicativo do chamado "O Cable", um teleférico que foi construído no início do século XX para a exploração de madeira dos Ancares que se estendia até O Portelo, de onde continuava o seu percurso até Vilafranca do Bierzo em camiões.

Após deixar à esquerda o núcleo principal de Donís, encontraremos à direita o desvio que em apenas 2km nos levará a Piornedo, onde encerraremos o primeiro dia do percurso.

Dia 2

O nosso segundo dia de excursão começa em Piornedo, onde visitaremos as palhoças, o conjunto etnográfico e a capela de São Lourenço. Logo à entrada deste local está localizada uma fonte, construída através da contribuição popular, e no qual consta a seguinte inscrição: "Hízose en 1787. Viva Piornedo". (“Realizada em 1787. Viva Piornedo”). Para quem gosta da montanha, esta localidade é o ponto de partida para a subida a Mustallar, de 1935m de altitude. Após a visita nesta localidade, faremos um desvio no ponto onde se encontra esta fonte. A um quilómetro e meio de distância entramos na província de Leão. Do topo da montanha desfrutaremos de impressionantes vistas sobre as aldeias de Suárbol e Balouta.

Logo na paragem antes de continuarmos em direção a Balouta, podemos fazer dois pequenos desvios do percurso principal. O primeiro, em direção a Candín e Veiga de Valcárcel para chegar ao porto de Ancares, onde deixaremos o carro e caminharemos 300 metros até ao miradouro de Balouta, que oferece boas vistas das paisagens em redor. O segundo, tomando o caminho da estrada Suárbol, para visitar Brañas do Pan do Zarco.

Uma vez de volta à estrada principal passaremos por Balouta onde ainda se conservam várias palhoças, consideradas jóias da arquitetura tradicional das terras dos Ancares.

A partir daqui, num primeiro troço, seguiremos o curso do rio Balouta, entrando novamente na Galiza através de um desfiladeiro. Continuando, encontraremos várias aldeias como Murias de Rao, Robledo de Rao e Rao, sendo este último de grande interesse etnográfico. A sua igreja paroquial de Santa María alberga retábulos policromados do século XV.

Também é muito comum encontrar “cortíns”, nome dado às alvarizas desta zona. São construções fechadas por um muro, geralmente circular, onde são colocadas as colmeias para as proteger de ataques de animais, principalmente de ursos; no entanto, dado o desaparecimento desta espécie, estas estruturas perderam grande parte da sua funcionalidade.

Continuaremos o nosso caminho até à freguesia de Proba de Navia, chegando assim, ao final do segundo dia em Ancares.

Dia 3

Começaremos o dia a visitar a cidade de Proba, na qual se destaca a sua ponte de arco pontiagudo que salva o curso do rio Navia e o castelo, já existente desde o século XI, embora o edifício atual seja do século XIV com remodelações posteriores. Na praia e zona de lazer do Vanzado encontraremos o chamado "Múíño do Médico", uma demonstração interessante do património etnográfico.

Depois da caminhada pela cidade apanharemos a estrada LU-722 em direção a Becerreá, seguindo o curso do rio até São Martinho da Ribeira, onde virando à esquerda percorreremos quase 6km e chegaremos ao castro de Santa María de Cervantes. Situado junto à igreja matriz, encontra-se parcialmente descoberto e evidencia a presença de população neste território há mais de dois mil anos.

A partir deste ponto temos duas opções, regressar à estrada principal por onde viemos e continuar em direção a Becerreá, ou continuar pela estrada local em direção a San Román confinando com os vales dos rios do Castelo e de Quindous passando pelas aldeias de Rio do Castro, Vilaluz e Castelo de Cais. Na capital do município de Cervantes encontramos a recriação de duas palhoças e um celeiro com cobertura vegetal como exemplo da arquitetura tradicional dos Ancares.

Mais adiante, a cerca de 4 km encontraremos o cruzamento da estrada que vem de Navia de Suarna. Tomando a esquerda iremos para Becerreá, pondo fim a esta terceira etapa e ao nosso passeio pelos Ancares.

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